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Relações abusivas: Como fomos ensinadas a aceitar

Esse texto vem para abrir uma discussão sobre como somos ensinadas a viver em relacionamentos abusivos, em como normalizam essas situações e nos dizem que não precisamos nos preocupar, que é normal que o cara seja assim.

Fica aqui um alerta para você que vive algo semelhante, para que não se permita ficar amarrada. Denuncie, recorra à pessoas que possam te ajudar a lidar com a situação e fugir dela.

Espero que isso sirva de alerta e possa ajudar muitas mulheres.

Amélia Autumn

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Aprendi que o homem ser ciumento, possessivo era sinal de que ele me amava. E aprendi a aceitar esse comportamento. Aprendi que quando um homem aumentava seu tom de voz comigo, eu deveria me calar e abaixar minha cabeça.

Aprendi que se o cara levanta a mão pra mim em sinal de uma possível/provável agressão eu provoquei isso. E devo aceitar calada o fato de que apanhei.
Aprendi que é normal o cara escolher a roupa que eu visto, porque é proteção, é carinho, é cuidado.
Essa idéia de amor romântico me ensinou a ser submissa, a me calar diante de uma grosseria, de uma agressão, porque afinal de contas o homem é assim mesmo, testosterona demais faz isso, homem de verdade é homem que manda na mulher.
Cresci vendo todos os dias que mulheres deveriam cuidar da casa, dos filhos, e que os homens eram os responsáveis por prover o sustento da família. Sim, eu aprendi isso. Mas nunca aceitei.
Durante muito tempo fui vivendo um relacionamento abusivo atrás do outro, fui vendo amigas minhas serem agredidas por seus namorados ciumentos e possessivos, e aprendi que eu não deveria fazer nada porque em briga de marido e mulher ninguém mete a colher.
Mas o feminismo me ensinou que eu não preciso aceitar nada disso. Que esse tipo de comportamento não é normal e que isso é característica de um relacionamento abusivo. Nem todas as minhas amigas tiveram a mesma sorte que eu, de perceber que vivia um cárcere, que o meu relacionamento não era normal ou saudável.
Lembro-me de ter discussões horríveis com meu namorado na época por skype, quando dizia que ia sair com alguma amiga. Eu era xingada de vagabunda pra baixo. Eu engolia isso, chorava, e tinha medo de perdê-lo porque afinal de contas se ele tem ciúme é porque me ama, e que bom que alguém me ama não é mesmo?
Eu cansei de ver pessoas culpabilizando mulheres que sofrem agressão constante do seu companheiro, porque elas não denunciam, porque elas não terminam, porque elas não tomam uma atitude.
É muito fácil falar quando você não sofre uma agressão muito mais silenciosa e danosa, que é a psicológica. Assim como eu, muitas mulheres cresceram aprendendo que esse tipo de coisa é normal e aceitável, e que a gente deve relevar porque homem é assim mesmo e relacionamentos são complicados.
Mulheres que sofrem agressão são coagidas, são pressionadas por seu companheiro, são ensinadas a não delatarem os maus tratos porque se elas apanham, é porque mereceram. Diariamente reproduzem esse discurso, e diariamente mulheres morrem porque nem mesmo a lei criada para protegê-las é eficaz.
Chega de silenciarmos agressões, chega de culpabilização da vítima, chega de discursos em que se ensinam mulheres a calar-se diante da agressão ao invés de punir os homens por agredi-las.
Mulheres agredidas muitas vezes permanecem nessa situação por não terem refúgio, apoio, estrutura psicológica e financeira, porque uma lei que deveria proteger a vítima acaba passando a mão na cabeça do agressor.
Vamos parar de reproduzir esses discursos opressores, e vamos nos concentrar no que realmente importa: Vamos ensinar nossas mulheres a se protegerem, a reconhecerem relacionamentos abusivos e possíveis agressores, mas principalmente, ENSINAR AOS HOMENS A NÃO AGREDIR FÍSICA E PSICOLOGICAMENTE, A NÃO COAGIR, A NÃO AMEAÇAR, A NÃO OBJETIFICAR, A NÃO EXPLORAR.

Amélia Autumn